terça-feira, 2 de julho de 2013

Um poema de García Lorca

"A SOMBRA DE MINHA ALMA

A sombra de minha alma
foge por um ocaso de alfabetos,
nevoeiro de livros
e palavras.

A sombra de minha alma!

Cheguei à linha onde cessa
a nostalgia,
e a gota de pranto se transforma
em alabastro de espírito.

(A sombra de minha alma!)

O copo da dor
se acaba, porém resta a razão e a substância
de meu velho meio-dia de lábios,
de meu velho meio-dia
de olhares.

Um turvo labirinto
de estrelas fumegadas
enreda minha ilusão
quase murcha.

A sombra de minha alma!

E uma alucinação
ordenha-me os olhares.
Vejo a palavra amor
desmoronada.

Rouxinol meu!
Rouxinol!
Ainda cantas?"

(De Poemas de amor, de Federico García Lorca, tradução de Floriano Martins, publicado pela Ediouro.)

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