segunda-feira, 1 de julho de 2013
Terceiro ato
No primeiro ato, a Vida apareceu fria e triste. No segundo, triste e fria. No terceiro, não tendo sido aplaudida nos dois primeiros, veio vestida como uma rameira, com uma garrafa de uísque na mão e cantando obscenidades. Chamou o público para dançar com ela, marcou colarinhos com batom e rebolou quadris de rumbeira colombiana. Esse terceiro ato durou mais que os dois anteriores juntos. Só um dos espectadores, um senhor, se queixou, dizendo ter visto a peça encenada muito melhor em três capitais da Europa. Quando, porém, a Vida, sentando-se no seu colo, lhe perguntou se era aquilo que estava faltando, ele proclamou que sim, e só a deixou sair depois que ela chamou por socorro e foi acudida por três rapazes afogueadíssimos, que a levaram para os bastidores, enquanto as luzes da ribalta se apagavam e o público se perguntava se aquilo tudo fazia parte da peça, antes de aplaudir com tamanho ímpeto que um dos candelabros da sala ameaçou provar a lei de Newton ali mesmo, em público.
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