terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Da página inicial de "O enteado", de Juan José Saer

"A orfandade me empurrou aos portos. O odor do mar e do cânhamo umedecido, as velas lentas e rígidas que se afastam e se aproximam, as conversações de velhos marinheiros, perfume múltiplo de especiarias e amontoamento de mercadorias, prostitutas, álcool e capitães, som e movimento: tudo isso foi meu berço, minha casa, me deu uma educação e me ajudou a crescer, ocupando o lugar, até onde alcança minha memória, de um pai e uma mãe. Menino de recado de putas e marinheiros, dormindo de quando em quando em casas de uns parentes, mas a maior parte do tempo sobre os sacos nos depósitos, fui deixando para trás, pouco a pouco, minha infância, até que um dia uma puta pagou meus serviços com uma cópula gratuita - a primeira, no meu caso - e um marinheiro, quando voltei de um mandado, premiou minha diligência com um trago de álcool, e desse modo me fiz, como se diz, homem."

(Tradução de José Feres Sabino, publicado pela Iluminuras.)

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