"O cantor das corujas", de Margaret Atwood

"O cantor das corujas seguiu errante para a escuridão.
Mais uma vez não ganhara um prêmio.
Era desse jeito, na escola.
Ele preferia os cantos escuros, camuflava-se
com os cabelos e orelhas dos outros,
e pensava em vogais longas, e fome,
e a amargura da neve funda.
Tais estados de ânimo não atraem resplendor.

O que há comigo? ele perguntou às sombras.
A essa altura elas eram sombras de árvores.
Por que desperdicei minha corda salva-vidas?
Abri-me aos seus silêncios.
Permiti que crueldade
e penas me possuíssem.
Engoli ratos.
Agora, quando estou no fim, e vazio
de palavras, e sem fôlego,
você não me ajudou.

Bem, disse a coruja, sem fazer um ruído.
Entre nós não existem preços.
Você cantou por necessidade,
como eu canto. Cantou para mim
e minha mata, minha lua, meu lago.
Nossa canção é uma canção noturna.
Poucos estão acordados."

(Do livro "A porta", tradução de Adriana Lisboa, publicado pela Rocco.)