domingo, 8 de dezembro de 2013

Os rejeitados

Os rejeitados pelo amor são sorrateiros como homicidas. Andam de cabeça baixa, temem que o sol esteja tirando fotos de seu rosto esquivo. Não tocam rosas, pensam nas digitais. Não andam por lugares movimentados, receiam os dedos da zombaria apontados para os seus passos. Os rejeitados pelo amor murmuram monossílabos, não se atrevem a completar frases, porque nelas sempre se imiscuem palavras denunciadoras como nuvens, brisas e estrelas. Os rejeitados pelo amor têm marcas que não veem no espelho, mas que os outros reconhecem instantaneamente. Os rejeitados pelo amor têm inveja dos cães, dos gatos. Gostariam de ser um deles, de ter ao menos um canto de poltrona em que de vez em quando, ainda que como rotina, recebessem um afago. Os rejeitados pelo amor latem graciosamente e miam com suavidade. Os rejeitados pelo amor esperam o momento de latir e miar.

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