"Eu costumava ter o rótulo de útil pendurado em mim
como um rabo falso de corda num cachorro mutilado.
Abanava e abanava e abanava meu apêndice sem nervos:
Se eu lhe der algo, você vai gostar de mim?
Observe-me fazê-lo feliz!
Eis aqui um graveto seco!
Peguei-o no monte de cinzas.
Eis aqui um pássaro morto.
Pronto! Não sou bom?
Eis aqui um osso roído,
é meu,
tirei do meu braço.
Eis aqui meu coração, num motinho de vômito.
Foi minha culpa que você tenha se zangado
com as notícias do mundo? Que tenha xingado Deus
e os bancos, e ainda por cima o tempo?
Que tenha ficado de mau humor o dia todo e sido mordaz
com o seu espelho, e também
com as garotas no caixa?
Que tenha considerado o sexo um caos?
Fiz o melhor que pude. Abanava e abanava
meu rabo de corda.
Aceite um pouco de baba e lama!
Admire minha boa vontade! Ela se agarra
às solas de suas botas
como geleia macia e rosada derretida.
Tome, leve contigo!
Leve tudo, e então estarei livre;
poderei fugir. Sou inocente.
Fique com o rabo de corda também."
(Do livro "A porta", tradução de Adriana Lisboa, publicado pela Rocco.)
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