"A vida não está interessada no bem e no mal. Dom Quixote vivia constantemente a escolher entre o bem e o mal, mas sua escolha era feita em estado de sonho. Ele era louco. Só penetrava na realidade quando estava tão ocupado em enfrentar pessoas que não tinha tempo de distinguir entre o bem e o mal. Já que as pessoas existem somente na vida, precisam dedicar seu tempo simplesmente à tarefa de manter-se vivas. Vida é movimento, e movimento diz respeito àquilo que faz com que os homens se movam: ambição, poder, prazer. Qualquer que seja o tempo que o homem possa dedicar à moralidade, esse tempo deve ser, forçosamente, retirado do movimento de que ele constitui uma parte. Mais cedo ou mais tarde, é ele forçado a fazer escolhas entre o bem e o mal, pois que a consciência moral exige isso dele, a fim de que ele possa viver, amanhã, consigo próprio. Sua consciência moral é a maldição que tem de aceitar dos deuses, a fim de obter deles o direito de sonhar."
(Do livro Escritores em ação, coordenação de Malcolm Cowley, tradução de Brenno Silveira, publicado pela Paz e Terra.)
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