domingo, 13 de abril de 2014

Artista

Meus monólogos são agora
para quatro ou cinco mendigos
que ganham o ingresso
de uma associação
e vêm não para me ver
mas para sentar-se
e comer
em paz o seu pão

Não posso queixar-me

Mastigam em silêncio
fingem prestar atenção ao que digo
e se um ou dois
dos quatro ou cinco dormem
a culpa não é de sua má educação
mas do conforto das poltronas
e da calefação

Às vezes até me aplaudem
e hoje quando terminou
minha apresentação
um deles veio até o palco
e me ofereceu
metade do seu pão

Era um pão seco e velho
dava para ver
porém minha fome
o aceitaria com prazer
se um artista
um artista de verdade
pudesse abrir mão
de seu último grão
de dignidade.

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