terça-feira, 1 de abril de 2014

De Rosa Montero sobre Camille Claudel

"No manicômio ninguém conhecia sua profissão de escultora: ela era simplesmente a irmã de Paul Claudel. Ou amante de um (Auguste Rodin) ou irmã do outro, mas nunca ela mesma; é claro que seu destino foi desaparecer. A atual Encyclopaedia Britannica dá uma foto e duas colunas de texto a Paul Claudel, mas a Camille, que vem logo acima, só concede a seguinte linha: '(c. 1883/1898), amante e modelo de Rodin.' Note-se que as datas só abarcam o período que Camille passou com Auguste, como se, fora dessa relação, ela não tivesse existido. Quando, doze anos depois de sua morte, quiseram recuperar o cadáver da artista e tirá-lo do cemitério do manicômio, os herdeiros ficaram sabendo que a área havia sido alterada e que os restos tinham se perdido: em matéria de não ter, Camille nem sequer tem um túmulo. Há uma foto dela nos anos 1930 que a mostra transformada numa anciã consumida, com um agasalho enorme, um chapéu ridículo e uma comovente expressão de tristeza. Foi nessa época que ela escreveu a um amigo estas frases tremendas: 'Caí no abismo. Do sonho que foi minha vida, isto é o pesadelo.'"

(Do livro Histórias de mulheres, tradução de Joana Angélica d'Avila Melo, publicado pela Agir.)

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