quarta-feira, 2 de abril de 2014

De Rosa Montero, sobre Simone de Beauvoir e Sartre

"Os sete últimos anos de Sartre foram os piores: o filósofo estava cego e talvez mentalmente afetado. Lançou-se nos braços de um grupo maoísta e começou a publicar reflexões de pouco nível, que Simone não conhecia e não compartilhava. Era a traição derradeira: tinham deixado de ser dois corpos com uma só cabeça. Simone contou aos biógrafos Francis e Gontier os últimos instantes de Sartre: ele estava na cama do hospital e, sem abrir os olhos, disse: 'Amo-a muito, minha querida Castor', e ofereceu-lhe os lábios, que ela beijou; e depois ele adormeceu e morreu. Comovedora cena, perfeita culminância literária de uma vida de amor, que Francis e Gontier publicaram em seu estupendo livro, acreditando-a correta. Mas, ao que parece, as coisas não aconteceram assim: era Arlette quem estava com Sartre quando ele morreu. Simone chegou depois e tentou meter-se na cama com o cadáver."

(Do livro Histórias de mulheres, Joana Angélica d'Avila Melo, publicado pela Agir.)

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