domingo, 6 de abril de 2014

Dois trechos de Doris Lessing

Sobre as artes no comunismo - "Em países onde há um Partido Comunista, existe uma estrutura - mais que isso, uma fórmula - para a necessidade de humilhar, destruir e denegrir os artistas estabelecidos. Se Thomas Mann ou Proust são lacaios parasitas das classes dirigentes, então esse é o fim deles - e o terreno está livre para os talentos do crítico, que em geral deseja ser escritor. Os escritores (ou pintores) varridos do caminho são sempre os que ainda estão em cena, da geração imediatamente anterior à do crítico. Os clássicos estão a salvo - podem até ser venerados, porque estão mortos. Esse processo vigorou num país atrás do outro, em nossa época. Quando não há Partido Comunista, nenhum lugar intelectualmente respeitável onde pôr a inveja e a necessidade de estraçalhar e queimar antecessores, então a depreciação pode adquirir formas nacionalistas."

Sobre a poesia - "Porém eu desconfiava dos versos, já desde a hora em que tomava nota deles, porque tinha medo dos prazeres que a tristeza oferece."

(De Debaixo da minha pele, tradução de Beth Vieira, publicado pela Companhia das Letras.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário