quinta-feira, 1 de maio de 2014

"Amizade", de Marcel Proust

"É doce, quando se tem uma mágoa, deitar-se no calor da cama e aí, suprimidos todo esforço e toda resistência, até a cabeça debaixo das cobertas, abandonar-se por completo, gemendo, como os galhos ao vento de outono. Mas existe um leito melhor ainda, repleto de aromas divinos. É nossa doce, profunda, impenetrável amizade. Quando faz frio e gela, agasalho aí, friorentamente, o meu coração. Envolvendo até o pensamento em nosso quente carinho, não percebendo mais nada do lado de fora e não desejando mais me defender, desarmado, mas por milagre de nossa ternura logo fortalecido, invencível, choro de mágoa e alegria por ter uma alma de confiança onde possa depositá-la."

(De Os prazeres e os dias, tradução de Fernando Py, publicado pela Rio Gráfica.)

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