quinta-feira, 1 de maio de 2014

O banquete

No banquete do vinho e da carne, recusamo-nos a comer e a beber, e, sob apupos, nos retiramos do grande salão fazendo um discurso em que celebrávamos o amor. Da calçada aonde nos atiraram ouvimos o ruído das sedas estraçalhadas, dos fechos de sutiã, das calcinhas arrancadas, os risos, os urros e os gemidos da carne atiçada pelo vinho. Tínhamos imaginado que os convivas nos seguiriam quando saímos e, no entanto, escoou-se a noite, chegaram a madrugada e o dia, e a festa continuou. O sol estava alto já, quando os primeiros convidados, despedindo-se, começaram a tropeçar em nós, cantando ainda a embriaguez de todos os sentidos, deixando escapar dos lábios, mordidos e beijados, vogais que tilintavam na calçada como pepitas de ouro.

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