domingo, 22 de setembro de 2013

Pobre alma,

tão mal servida pelo corpo. Pobre alma, passarinho pousado numa árvore velha de galhos podres. Pobre alma, dependente de palavras que jamais conseguiram expressá-la. Pobre alma, brinco jogado por engano no lixo, convivendo com restos de comida podre do restaurante chinês, com o esqueleto de um gato envenenado e com os paninhos higiênicos jogados pelas mulheres do puteiro do número 27. Pobre alma, quem te pôs neste corpo, quando devia haver tantos outros? Pobre alma, como eu gostaria de segurar-te na palma da mão, levar-te a um monte alto, bem alto, até onde minhas pernas conseguissem subir, e soltar-te. E de ter a sobriedade que sempre me faltou e, sem ornamentos de literatura, dizer apenas, baixo, bem baixo: "Vai." E ver-te subindo, leve, leve, leve, leve.

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