"Eu era sádica. Esperar e fazer esperar significam deliciosa perdição.
- Se nos apanhassem... - sonhei em voz alta.
- Não posso esperar mais - gemeu Isabel.
Por cima do rosto torcia as mãos.
Perante o medalhão caí de joelhos, contemplei-lhe o fulgor, aquela moita. Pus-me a correr riscos de contrabandista, principalmente no rosto. Com as pernas, Isabel deu uma tesourada.
- Olho e fico presa - digo eu.
Esperamos.
O sexo subia-nos à cabeça... No seu ventre, na minha testa, um incalculável número de corações batia.
- Assim, assim... Tão depressa não. Tão depressa não, já disse... Mais para cima. Não... Mais abaixo. Quase... Estás quase... Sim... sim... é quase aí... Agora mais depressa, mais... - dizia ela.
A minha língua investigava a noite salgada, a noite pegajosa na carne frágil. Quanto mais eu me aplicava, mais mistério havia nos meus esforços. Hesitava em redor da pérola.
- Não pares. É mesmo aí, estou a dizer-te...
Perdia-a, encontrava-a.
- Isso, isso - queixava-se Isabel. - Acertaste, acertaste - era o êxtase. - Continua. Peço-te... Aí, sim, aí... aí mesmo...
A sua angústia, a sua autoridade, as suas ordens, as suas contraordens perdiam-me.
- Não queres guiar-me? - pergunto eu, separada do universo fantástico.
Era uma pergunta entre os lábios do sexo.
- É isso mesmo o que eu faço - diz ela. - Tu é que não pensas naquilo que fazes.
- Até penso demais - digo eu.
Com lágrimas de suor molhei seu púbis.
- Ensina-me... Ensina-me..."
(De Teresa e Isabel, tradução de Aníbal Fernandes, publicado pela Relógio D'Água Editores, Lisboa.)
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