segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O soneto

Concentrou-se, reuniu toda sua emoção, suas lágrimas e, uma hora depois, surgiu no papel um soneto. Ele o analisou linha por linha. Perfeito, obra de pura ourivesaria. Nem parecia dele. Como, depois de garimpar tantos anos em vão, lhe viera aquela pedra preciosa? Verdade que o primeiro quarteto já lhe soava agora como algo já ouvido, que o segundo se assemelhava a um mero eco do primeiro, que o terceto inicial preparava mal a entrada do terceto derradeiro. E o verso final, que lhe parecera uma autêntica chave de ouro, era agora, inequivocamente, uma chave de outro. Assim como a mulher que o inspirara.

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