sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Três poemas de Heinrich Heine

"Quem tem um coração e guarda
Lá dentro o amor, então perdeu
Metade da batalha, e eu
Já estou de algemas e mordaça.

Quando eu morrer, me arrancam fora
A língua inútil de defunto,
Com medo que eu retorne ao mundo,
Pra destampar no falatório.

Os mortos apodrecem mudos
No túmulo; não vou jamais
Denunciar, correr atrás
De quem me soterrou de insultos."

                    ***

"A cartinha que me escreves
Não me abala a alegria;
Pra dizer que o amor já era,
Escreveste em demasia.

Doze folhas manuscritas
Com letrinha de notário!
Quem deseja a despedida
Não se dá tanto trabalho."

                    ***

"Sós, na diligência escura,
Viajando a noite inteira;
Lado a lado, com ternura,
Muito riso e brincadeira.

Quando o sol subia a pino,
Que surpresa, minha criança!
Passageiro clandestino:
Eros, entre nós, descansa."

(Do livro Heinrich hein? - poeta dos contrários, tradução de André Valias, publicado pela Perspectiva.)

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