"Não creias que é burrice eu aturar
As tuas escabrosas diabruras;
Nem penses que meu vício é perdoar,
Como se eu fosse um deus lá das alturas.
Aguento os teus chiliques e capricho
Resignado e sem abrir a boca.
Um outro já teria dado o troco
E te jogado com desdém no lixo.
Querida, não há Cristo que suporte
A cruz que vou levando de bom grado!
Mas juro, não lamento a minha sorte:
Contigo hei de expiar todo o pecado.
Mulher, teu outro nome é Purgatório!
Mas sei que dessa fria companhia
Irá me resgatar, um santo dia,
O Deus do amor e da misericórdia."
***
"Entristecido olho pra cima -
Acena-me um montão de estrelas;
Contudo eu não encontro a minha,
Em canto algum consigo vê-la.
Terá no argênteo labirinto
Perdido o rumo feito eu,
Que neste mundo me ressinto
De nunca ter achado o meu? -"
***
"Meus desejos brilham ouro!
Mas são bolhas de sabão -
Feito a vida se me foram,
E eu caído aqui no chão!
Digo adeus! Eles se foram,
Meus desejos: tudo em vão!
Foi mortal o duro golpe
Que atingiu meu coração."
(Do livro Heine hein? - poeta dos contrários, tradução de André Valias, publicado pela Perspectiva.)
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