segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Sobre o corpo e a alma
Em assuntos da alma, o corpo deve ficar alheio. A nenhum corpo a alma se entregará, ainda que os olhos nele vejam a cintilação da extrema beleza. Que ninguém, no êxtase do desejo satisfeito, diga ao ouvido de mulher ou homem minha alma. Essas duas palavras, as mais puras que alguém é capaz de pronunciar, podem ser dirigidas àquela mulher ou àquele homem que nunca se teve e nunca se terá nos braços. Minha alma se diz a amores impossíveis, inalcançáveis como as divindades. Ninguém leva uma alma ao motel, ninguém a faz passar pelos olhos cínicos do porteiro, ninguém a deita na cama, ninguém derrama sêmen dentro dela. Nossa alma, se existir, é só o que se salvará do fogo, da terra, dos vermes e de nossa miséria corporal.
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