sexta-feira, 4 de junho de 2010
Pequenas alegrias urbanas (175) -- Voyeur
Fazia já três meses que, toda manhã, entre as sete e as sete e meia, ele apontava o binóculo para o apartamento do prédio vizinho onde uma loira esguia, embora vivesse sozinha, tomava café com uma classe impecável, como se estivesse num clube londrino acompanhada por um lorde. Naquele dia, quase não acreditou quando ela meteu o indicador no nariz e, no momento seguinte, para ainda maior espanto dele, começou a escarafunchar o interior da narina, o que o fez descer apressado para ir se postar diante do entrada do prédio por onde a mulher dali a pouco sairia, agora impelido pela impressão e pela esperança de que ela talvez não fosse tão inacessível quanto havia parecido três meses antes.
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