sábado, 2 de março de 2013

Kama Sutra - CXXIII

O que mais o encanta na mulher é o nariz. Pernas maravilhosas, lábios maravilhosos, olhos maravilhosos não são considerados assim por ele. Maravilhosos são os narizes. O motivo só ele sabe. Tem vinte e três anos. Quando estava com sete, uma empregada que tinha acabado de ser contratada pela mãe o iniciou, pedindo-lhe que guardasse segredo, numa brincadeira: a do nariz com nariz. Esfregavam um no outro, como se estivessem travando uma luta de espada. Ele gostou muito da brincadeira, pelo menos no início. Depois, ela introduziu no jogo uma sequência, um boca com boca. Só ela gostava dessa parte. Quando ela passou a abreviar cada vez mais a fase inicial, a apertá-lo contra o corpo, a colar os lábios nos dele e a mordiscá-los, ele ameaçou não brincar mais. Ficaram alguns dias sem aquilo, zangados um com o outro, até que chegaram a um acordo: seriam cinco minutos de nariz com nariz e cinco de boca com boca. Ele sempre achava que ela dava um jeito de trapacear, mexendo disfarçadamente no relógio e antecipando a segunda etapa. Só aos dez anos - quando a mãe havia despedido a empregada, por furto - ele teve a noção de como lhe fazia falta aquele jogo. Desde esse tempo, quando ele vê um nariz parecido com o da empregada, imagina-se entregue ao antigo jogo, agora com o mesmo prazer nas duas fases, e tendo sua mão dirigida para o meio das quentes coxas dela, como uma vez - só uma vez, porque ele protestou e saiu correndo para o banheiro, para tirar dos dedos o cheiro de mormaço - ela havia feito.

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