sexta-feira, 1 de março de 2013

Sadismo, masoquismo

A simplificação que se faz quando se fala de sadismo e masoquismo - relacionando-os invariavelmente com torturas compartilhadas, calabouços, algemas e chicotes - é um estereótipo, uma caricatura que os trata como se pertencessem apenas à esfera física e fossem manifestações não de amor, mas da paixão naquele nível extremo em que ela é encarada como uma doença. Arthur Schnitzler, contemporâneo de Freud e também psicanalista, escreveu obras de ficção nas quais se pode dizer que os protagonistas, chamem-se Pierre ou Margueritte, são o sadismo e o masoquismo. Um e outro, embora tenham recebido essa denominação recentemente, sempre fizeram parte da natureza humana, como o ódio, a cobiça, a inveja, o ciúme, sentimentos sem os quais a novela e o romance ou não existiriam ou serviriam somente como soníferos. Há casais que se horrorizam à mera menção desses dois termos, embora, mesmo sem perceber, e sem os exageros apontados no estereótipo e na caricatura, os pratiquem no seu dia a dia. Seja em que grau for, o sadismo e o masoquismo estão presentes no amor, mesmo no mais insosso. São uma espécie de gangorra, interpenetram-se, complementam-se, equilibram-se. Citar um é pressupor o outro. São duas partes de um todo, definido com propriedade como sadomasoquismo.

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