sábado, 11 de maio de 2013

A dança das letras

Uma das comoções de minha vida - aquela voz que era a voz de São Paulo e por merecimento assumia seu nome - vai mudando, e eu acompanho aflito e atônito essa mudança. É como um alfabeto que, subitamente enlouquecido, se pusesse a pegar as letras e atirá-las para o alto. Quando descem, elas têm já outra feição. Ora é um "w" que se apresenta como se fosse um "a", ora é um "g" que diz ser "p". Meus olhos cansados não decifram o novo código, e as belas frases de tantas décadas soam aos meus ouvidos como algaravia. Tomara que isso seja só uma equivocada visão de alguém muito velho que já vai deixando de entender tudo, que vai vendo a morte de todos os seus afetos e pensa se não é esta a hora também de deixar tudo e de morrer como todos os seus afetos.

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