segunda-feira, 22 de julho de 2013
A representação do amor
Se eu fosse artista plástico, possivelmente representasse o amor como um eunuco diante de uma cama em que, nua, estivesse deitada uma princesa. Ela não estaria como uma messalina. Não teria, nem na mão nem nos lábios, um cacho de uvas ou uma cereja. Seu olhar seria como o do eunuco, triste, e nos seus lábios estaria a palavra vem. Um de seus braços reforçaria esse apelo. Haveria seda, muita seda na cama, e uma meia-luz conivente. O que se seguiria não estaria na tela, mas a perícia do artista consistiria em insinuar que aquele não era o primeiro encontro da princesinha com o eunuco e que o encanto que tinham desfrutado e voltariam a desfrutar entre as sedas ciciantes era o da união incompleta e agridoce, exaltada como um martírio.
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