segunda-feira, 22 de julho de 2013
É uma dessas criaturas...
... perturbadas pelo amor. O amor é o seu trabalho. Acorda às sete, toma banho, apronta-se e sai. Há alguns anos não fala com ninguém. Diz só uma palavra, que repete com a obstinação de um boneco movido a bateria. De cinco em cinco segundos, quem estiver perto ouvirá: amor, amor, amor. Ele atravessa a rua, ele pega o metrô, ele desce na estação Paulista, ele entra, sobe a escadaria, e deixa no ar, com os olhos úmidos e o capricho com que um ipê joga as flores ao vento: amor, amor, amor. Enfia-se na galeria, entra na Cultura, percorre a estante de romances estrangeiros e vai aspergindo amor com sua voz gutural. Volta à noite, como alguém que ganhou honestamente seu dia. Já na esquina da sua casa, sabem que é ele que vem: amor, amor, amor.
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