segunda-feira, 22 de julho de 2013
Quando o sol...
... surge, é a hora em que o amor, sombrio como uma alma penada, volta para casa. São poucas as pessoas que ele encontra no caminho, e todas desviam dele o olhar. O amor vem macilento, lívido, como um cadáver erroneamente exumado. Andou de madrugada farejando todos os quartos, todas as camas redondas, e inibiu todos os abraços, todos os beijos e todos os encontros carnais, com sua cara amarga de pedinte faminto. Os porteiros de todos os motéis o perseguem, mas ele, como um espectro maligno, consegue estar toda a noite em qualquer lugar em que um homem e uma mulher queiram entregar-se à recíproca exploração dos corpos. Ele pede, ele implora, ele suplica, ele exige. O amor modernizou-se, viciou-se em sexo e ameaça rasgar as veias se não o deixarem ao menos resvalar a mão por uma coxa ou aspirar o mormaço das entrepernas. O amor põe-se a babar se vê um umbigo, um ninho de pelos encaracolados, um pescoço branco, um seio leitoso. O amor quer deitar-se em todos os leitos e embriagar-se com todas as luxúrias.
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