A história dos dois enamorados e da lua (da obra "Explorações", de Rula Wicknerd)

Numa das tribos que me acolheram, ouvi o relato de um jovem nativo que se tomou de amor pela lua. Toda noite ia ao rio e entoava as canções que para ela compusera durante o dia. Não se alimentava, não dormia, dedicava-se apenas ao seu amor insano. Implorava à lua que descesse e o apanhasse, ou lhe ensinasse um modo de chegar a ela. Uma nativa que sofria por ele, e aspirava ao seu amor, o seguiu uma noite. Ouviu os apelos pungentes que fazia e aproximou-se para consolá-lo, porque ele chorava. Não chegou a falar com o amado. A lua fez descer um tapete luminoso, no qual ela se alçou. Nunca mais foi vista. Descobrindo tardiamente que a amava, o nativo passou a suplicar à lua não que o levasse, mas que lhe devolvesse seu amor. Cheguei a ver o infeliz. Estava com quarenta anos, segundo me disseram, mas parecia ter o dobro. Seu rosto era claríssimo, como o de um europeu, e à noite brilhava como o de um espectro.