sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Asdrúbal do Nascimento
Às vezes refaço mentalmente o caminho que me levou àquela rua na qual eu soube que o sexo não tinha nenhuma semelhança com o que os autores românticos apregoavam. Apalpando no bolso o dinheiro que eu ganhara fazendo trabalhos escolares para alunos preguiçosos, passei por um porteiro conivente e subi pela escada escura até um primeiro andar em que havia um quarto com uma lâmpada nua de luz mortiça. Até ali eu mal olhara para a mulher que agora me instava a tirar a roupa (na verdade, só a calça, para apressar as coisas). Quando a olhei bem, senti que dali a instantes eu estaria irremediavelmente mudado. Já nem me passava pela cabeça a ideia de prazer. Devia salvar apenas a honra do macho novo que eu era. Não fiz nada. Fui sacudido profissionalmente para cima e para baixo, como um ovo saltando sobre uma frigideira. O que me envergonhou foi poder responder honestamente que sim, quando a mulher perguntou se eu já havia gozado (a palavra soou no quarto como um rato andando sobre um papel de seda). Sim, eu era um homem quando desci a escada, mas não sentia orgulho nenhum. No entanto, eu voltaria dias depois, com o dinheiro duramente ganho no bolso, e subiria novamente a escada e entraria no quarto de luz mortiça.
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