segunda-feira, 26 de maio de 2014
O gato gorducho
Ele sabia como doeria a saudade quando se dissessem adeus. Não se enganou. Mas não imaginava que a saudade atacaria tão traiçoeiramente, usando armas tão desleais - como a lembrança de como ela cantarolava enquanto ia tirando a roupa diante dele, de como às vezes até assobiava ao fazer isso, de como parecia sempre feliz nas horas do amor, como se estivesse praticando um exercício num parque. E de como ela ria gostosamente e dizia "vê se para com esse ciúme, Toninho", quando seu gato gorducho, do lado de fora, ficava arranhando a porta. E de como ria mais ainda quando, depois de aberta a porta, Toninho pulava nele para lhe deixar no corpo as rancorosas marcas que ele hoje olha com um sorriso condescendente e triste.
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