sábado, 17 de abril de 2010

Pequenas alegrias urbanas (39) -- O pai

Era o sábado em que o homem, separado, passava o dia com os três filhos. Acordou ainda zonzo da bebedeira da véspera e chegou para pegar os meninos ao meio-dia, e não às onze, como estava acertado. A ex-mulher, aparecendo na frente da casa com o novo marido, recomendou: "Olha lá aonde vai levar essas crianças." Ao meio-dia e meia ele e os filhos estavam num bar de quinta categoria, onde ainda lhe vendiam fiado. Pediu uma cerveja, três cocas e três sanduíches de queijo. Os garotos, que não tinham almoçado com a mãe, devoraram os sanduíches e pediram mais. "Inventei uma brincadeira", disse então o pai, para que esquecessem daquilo. "Vocês prometem não contar pra sua mãe?" Eles prometeram. A brincadeira consistia em ficarem os três diante de uma padaria na rua paralela, pedindo moedinhas aos fregueses na saída. "Assim vocês me deixam sossegado aqui. O dinheiro vocês podem gastar em balinhas. Se alguém der uma nota grande, vocês me trazem." Depois de uma hora debaixo do sol, os meninos conseguiram comprar uns chicletes com as esmolas. Então, um homem que estava guardando o troco no bolso, deixou cair uma nota. Os três se olharam por um instante, mas decidiram que precisavam do dinheiro mais do que o homem. Nem pensaram em levar a nota ao pai. Pegaram três sorvetes, dos caros, e o resto gastaram em pãezinhos de queijo. Estavam alegres e continuaram assim até as três horas, quando o pai foi lhes dizer que precisavam ir para casa.

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