quarta-feira, 7 de abril de 2010
Pequenas alegrias urbanas (3) -- Companhia
Toda manhã, quando o homem chegava ao ponto do ônibus, aparecia do nada um cãozinho que, sob o encantado olhar das pessoas, se deleitava em lamber as mãos dele. Já dentro do ônibus, ainda se comentava como era engraçadinho o cachorro, ao qual ele acenava por alguns instantes, ouvindo os latidos de retribuição. Numa manhã muito fria e chuvosa, ele precisou sair de casa duas horas antes, de madrugada. Assim que chegou ao ponto, viu aproximar-se o cãozinho, todo encolhido mas feliz. Ao sentir na mão o contato áspero e gelado da língua, o homem fez o que havia muito desejava. Agarrou o cachorro e o atirou longe, com raiva. Quando o ônibus veio, subiu sozinho e satisfeito. Não havia ninguém no ponto e o cãozinho havia desaparecido.
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