domingo, 6 de junho de 2010
Pequenas alegrias urbanas (180) -- Daquele tempo
"Ah, tio, você não vai chorar, vai?", a garota perguntou, com as mãos em cima das mãos dele, na mesinha da lanchonete, e ele fez que não, com a cabeça, mas era óbvio que ia chorar, sim, que ia chorar muito assim que viessem os sanduíches e ela tirasse as mãos das mãos dele e, comendo, armasse com os lábios aquele biquinho que, agora ele sabia - e tinha precisado de sete encontros para saber -, nunca beijaria com a paixão que um minuto atrás ainda imaginava possível. Relegado à condição de amigo, ele, antes que os sanduíches e as lágrimas viessem, tentou disfarçar como se sentia velho e acabado e começou a cantarolar uma musiquinha alegre que fez a garota sorrir, recomendar-lhe outra vez que não ficasse triste e, sem querer, afundá-lo ainda mais na depressão, ao lhe dizer: "Legal essa aí, tio. Amei. É do seu tempo?"
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