sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O atestado

Não precisa
se ver no espelho
nem notar como olham
para ele as pessoas
para saber que
está morto

Sabe há muito tempo já

Deve haver
em algum canto da casa
no fundo de uma gaveta
escondido dentro de um livro
oculto no meio das roupas
um papel que ateste isso
que ele está morto
um papel que por piedade
escondem dele

Pensam
que lhe faria mal
saber que está morto
mas ele sabe
e sente-se bem assim
morto
alheio à dor
e à alegria
sombra apenas
que nada quer
e nada espera
e a quem não importa mais
se hoje é inverno
e se amanhã
será primavera

Nenhum comentário:

Postar um comentário