terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Os puros

Tantos patetas
recebendo comendas
encomendadas
faixas douradas
condecorações

Tantos cretinos
ostentando supinos
suas ordens
seus colares
seus medalhões

O tempo dirá o que são

Embolorarão
as fotos em que sorriem
com os protocolares dentes
e com os casacões
que garbosos levaram
às solenidades
e às festivas ocasiões

As traças comerão
o bigode de um
a boca de outro
todas as pompas
e ostentações
e morrerão todas
irreverentes traças
traidoras da tradição
de câncer
e de indigestão

Os anos passarão
e todas essas majestades
essas potestades
essas divindades
que horror
que mundo é este
apodrecerão
e nem as molduras
se salvarão

O amor ficará porém
e todos os que por ele viverem
e todos os que por ele morrerem
perdurarão

Ficarão nos retratos
intocados nas paredes
e por algo que ninguém explicará
o vidro que os protege
brilhará e brilhando
continuará
até o momento em que a memória
do último dos potentados
cheia de hesitação
coçará a cabeça e perguntará
quem foi mesmo esse figurão?

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