quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Insones madrugadas

Cansei-me
tu sabes?

Por ti
perseguiram-me
todos os cães
e todos os guardas
de todos os quarteirões
nas noites
em que como um ladrão
eu rondei tua casa
só para ter
a desenxabida alegria de ver
tua janela
fechada sempre
e apagada

A lua
infatigável investigadora
quando perdiam minha pista
varria com a luz cruel
do seu helicóptero
minha patética
figura de poeta
e incitava de novo
os cães e os guardas
que já não sabendo
o que eram calças
e o que eram pernas
o que eram ombros
e o que era cabeça
me espancavam
me estraçalhavam

Cansei-me
tu sabes?

Cansei-me
de deitar-me
roto e dilacerado
e suplicar um sonho
em que não houvesse
nam cães nem guardas
e tua janela
afinal se abrisse
toda iluminada

Cansei-me
de acordar
e lavar o rosto
com minhas lágrimas
e sentir o sal
queimar as feridas
abertas nos meus lábios
pelos desesperançados beijos
que em meu travesseiro
como se fosse tua boca
eu cravei febril
em tantas insanas
e insones madrugadas

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