Ele espera
Os cinco sentidos
trabalham para ele
ouvem olham farejam
testam com a língua
a apetitosa presa
atestam
apalpam suis e nortes
toda a geografia
montanhas
contrafortes
sargaços
conchas impregnadas
de maresia
Ele espera
Quando o chamam
ele soberano
finge que há algo
tedioso naquilo
como se fosse
um monarca bonachão
cuspindo
caroços de azeitona
num festim
tentando acertar enfim
o chapéu do bufão
Mas quando
a luz se apaga
ele como um leão
se atira sobre a corça
Ele lacera
dilacera
estraçalha se puder
e se puder extermina
Move-o uma
vingança precoce
Sabe que um dia
lhe faltará essa fúria
essa volúpia de sangue
e a corça na cama
zombará do seu
inútil empenho
Mas hoje não
Hoje ele estoura
hoje ele estrompa
ele estupora a corça
e mais goza
quanto mais ouve
os gemidos
do animalzinho tolo
mais um que acreditou
na doçura do amor
e na brandura proclamada
pelos cinco falsos sentidos
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
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