terça-feira, 2 de abril de 2013

A penteadeira

Deitada de bruços, nua, esgotada pelo sexo, ela dormiu. Ele, também nu e esgotado, pensando em acordá-la para uma repetição, começou a passar a mão no dorso dela, iniciando pela nuca e descendo rápida até a protuberância das nádegas. Lembrou-se da montanha-russa dos seus tempos de menino. A mulher, a cada novo passeio da mão, gemia no sono. Ele, ainda não se sentindo com ímpeto para montá-la de novo, cansou-se da montanha-russa. Foi ao banheiro e, na volta, parou na frente da penteadeira e viu uma foto dos filhos da mulher - uma menina de uns sete anos e um garoto aparentando cinco. Bonitas crianças. Ela lhe dissera que fazia programas para manter os dois, que moravam com a avó. Sentindo-se pronto para recomeçar, começou a dar pancadinhas nas costas dela, mas ela gemia, gemia e continuava dormindo. Ele se irritou. Tinha dado a ela dinheiro por uma noitada. E agora, aquilo. Pensou em deitar-se sobre ela e acordá-la com algo mais convincente que as pancadinhas, mas ocorreu-lhe melhor solução. Vestiu-se e pegou o dinheiro que tinha dado e ela enfiara no criado-mudo. Seria uma boa lição para ela. Com o dinheiro no bolso, foi até a porta do apartamento e pôs a mão no trinco. Olhou então de novo para a penteadeira. A menina e o menino tinham agora um ar frágil. Tirou o dinheiro do bolso e o recolocou no criado-mudo. Sentiu-se estranho, como se fosse outro, e já no elevador decidiu que no dia seguinte iria ao banco pegar um empréstimo e pagar a pensão do filho, dois meses atrasada. No táxi, pensou que quem atrasava dois meses bem podia atrasar três. Afinal, a ex-mulher era rica para quê?

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