domingo, 28 de abril de 2013
O corpo,
esse tolo, e o coração, seu mentor, enganam-se com facilidade. Não precisam nem de um sol como o de hoje para se acharem felizes. Um sorriso qualquer que recebam, um olhar, uma bobagem que lhes digam, e pronto, põem-se os dois a sacudir o rabinho de cachorros fraldiqueiros. E, se recebem tudo num dia - esse sol, esse sorriso, esse olhar, essa bobagem qualquer -, enlouquecem de felicidade. Logo querem lambiscar mãos, saltar ao colo, e mijam-se de alegria. Já a alma, não. Ela fica fria, digna, como deve ser uma alma. A alma é tão exigente que às vezes não se comove nem com um trecho de Mozart. Nosso trabalho, neste domingo, é dopar a alma, não deixá-la impor-se. Ao menos hoje, gozemos a estuporada alegria de ser fraldiqueiros. Ao ver nossa dona, mexamos nosso rabo como se fosse um limpador de para-brisa, deixemos nos dedos dela a emoção de nossa saliva, saltemos ao seu colo, mijemos nossa alegria sobre ela, inteirinha, ainda que seja só para ouvir suas reprimendas com aquela voz que recebeu aulas do mais puro veludo.
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