segunda-feira, 15 de abril de 2013
Das dores
Existe uma dor social, que sentimos pela nossa consciência de pertencermos a uma espécie e de devermos solidariedade aos nossos semelhantes. Catástrofes em qualquer ponto deste mundo, que as comunicações tornam cada dia menor, são compartilhadas por nós on line. Curioso é o cérebro. Estas reflexões me foram provocadas por uma triste memória de infância, quase adolescência: a manhã em que vi meus dois gatos, sumidos havia algum tempo, jogados num terreno baldio. Tinham sido mortos a tiros. Nesse dia, se um avião caíssse e morressem duzentas pessoas, eu não teria uma gota de compaixão por elas. Toda a minha dor estava reservada para os dois gatos, Muchi e Peter. Imaginar que esse sentimento fosse egoísta seria julgar mal. Nossa dor individual é espontânea e sempre há de predominar sobre a dor social. Querer que prevaleça o contrário é de um total irrealismo. Lembro-me de Lourenço Diaféria dizendo isso em uma palestra, há muitos anos. Ele aconselhava o público a se libertar da mania que às vezes temos de querer suportar todas as dores do mundo. Achar-nos culpados por um churrasco que fazemos num dia de tragédia em alguma parte do planeta é o suprassumo da autoincriminação.
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