segunda-feira, 15 de abril de 2013

De madrugada,

quando as buzinas e os cachorros se cansam, quando os últimos desafios dos bêbados desistem de atingir Deus, quando até as infelizes crianças que moram embaixo dos viadutos se calam, embora o estômago raivoso ainda reclame, há no ar um murmúrio que erradamente uns atribuem à fiação elétrica e outros às torres de celular, ao cochilo inquieto dos elevadores ou ao roçar de saias de damas antigas, que transformadas em fantasmas andam pelos velhos palacetes, carregando castiçais e espantando os ratos. São os amantes infelizes que podem enfim murmurar suas queixas sem que os acusem de fraqueza e pusilanimidade. Eles mantêm esses murmúrios até que o cicio do orvalho da manhã vem silenciá-los.

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