terça-feira, 23 de abril de 2013
Sete décadas e quatro anos
Esquece as coisas, perde tudo, baba até quando diz a palavra esperança. Nos sonhos, é perseguido por multidões que querem açoitá-lo, queimá-lo, enforcá-lo. Se os sonhos trazem revelações, talvez ele tenha descoberto tardiamente a vocação de mártir. Isso é paranoia, dizem-lhe, mas ele já não consegue guardar o sentido das palavras. Pensa ter sido poeta um dia, talvez seja ainda, e nos sonhos é achincalhado por homens de nome estrangeiro, como Alzheimer e Parkinson. Talvez sejam rivais seus, antigos ou recentes. Ou talvez sejam nomes de cachorros, pelos quais é também perseguido, nos sonhos e fora deles. Como se chama o da vizinha, mesmo? Walcott, parece. Ou Eliot?
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