"Quem é sensível acaba se queimando, como uma delicada borboleta noturna. E é por isso que esses dois compositores extremamente doentes, Schumann e Schubert, cujos nomes começam com a mesma sílaba, são os que estão mais próximos de meu coração arruinado. Não aquele Schumann de quem já escaparam todos os pensamentos, mas o do período imediatamente anterior. Quando ele já estava quase louco. Ele já intuía a loucura, já sofria com ela em suas mais tênues veias, já se despedia de sua vida consciente por meio de coros de anjos e de demônios, mas ainda resistia uma última vez, embora não totalmente consciente de si mesmo. Trata-se de um último auscultar atento e saudoso, e do luto pela perda do bem mais precioso: de si mesmo. A fase na qual ainda se sabe o que se está perdendo, antes de se entregar totalmente.
(Do romance A pianista, tradução de Luis S. Krausz, publicado pela Tordesilhas.)
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