quarta-feira, 3 de julho de 2013

O realismo

O realismo às vezes leva o escritor a ter a ideia de que a literatura é uma espécie de documentário. E ele começa a dizer que, às quatro e vinte e dois do dia tal de tal mês do ano tal, estando o céu carregado de nuvens, um homem, sob o peso de sua mágoa amorosa, ouviu tal canção e misturou suas lágrimas à chuva que nesse instante começava a cair sobre tal bairro de tal cidade. Se a noite compuser um cenário melhor para a tristeza do protagonista, ainda que este seja o próprio escritor, que venha ela, com estrelas ou não, conforme a conveniência. A literatura não precisa prestar contas a mais ninguém senão a si mesma. A literatura tem sempre a sua verdade e deve ser um instrumento de libertação, não uma corrente fechada com cadeado. O realismo extremado tende a produzir não escritores, mas escreventes de delegacia.

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