sábado, 14 de setembro de 2013

A verdadeira beleza

Descobriu a beleza e a forma exata de exprimi-la quando acabou de escrever seu quarto romance. Era uma beleza palpável, sólida. Talvez pudesse ser medida e avaliada cientificamente. Arquivou o texto e pôs-se a escrever uma versão paralela. Esta, expurgada de toda a beleza, iria para o editor e para os leitores, que haviam recebido com desdém os três livros anteriores. Descobrira, a tempo, o estratagema deles. Haviam desdenhado os três livros anteriores para incitá-lo, por vaidade, a revelar o que só ele, no mundo, seria capaz de conhecer: a verdadeira face do belo. Esta ficaria para ele, só para ele. Deixaria um documento pelo qual permitiria a publicação do livro real quando estivesse morto. Olhou pela janela, mas recusou-se a sorrir para o sol. Com a descoberta da beleza, viera também a da felicidade. Sabia que ela consistia em negar e recusar. O gato aproximou-se dele para o carinho matinal. Ele o afastou.

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