sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Crenças
Eu queria acreditar que houvesse mãos feitas apenas para plantar lírios, preparar o pão dos pobres, apontar para o arco-íris, tocar pétalas de rosas doentes ou fazer adormecer gatinhos tristonhos. Eu sempre me adverti para não tocá-las jamais, para não ser por elas tocado nunca. E no entanto, por onde andavam essas mãos... Muito de minha tristeza vem disso, de ter sabido, no final da adolescência (!), que elas se esmeravam em abrir botões e em descer por voluptuosas incursões umbigo abaixo, em corpos alheios ou nos próprios. Dói-me ainda essa descoberta. Preferiria não tê-la feito. E me dói ainda mais ter a certeza, hoje, de que no fundo o que eu lamentava não era ver a pureza desmascarada, mas a tolice de acreditar nela e não havê-la desfrutado como os outros.
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