domingo, 1 de setembro de 2013

De Margaret Atwood sobre mulheres artistas

"Se exigia-se sacrifício dos artistas homens, quanto mais seria exigido das mulheres? O que nos leva a desconfiar que a caprichada letra escarlate bordada no peito da castigada e desprezível Hester Prynne, no romance homônimo de Hawthorne, não representa apenas Adúltera, mas também Artista ou até Autor. Esperava-se que um homem representando o papel de Grande Artista Vivesse a Vida - tal tarefa fazia parte da consagração à sua arte -, e Viver a Vida significava, entre outras coisas, vinho, mulheres e cantos. Mas se a escritora experimentasse o vinho e os homens, seria considerada uma bêbada e uma meretriz, de modo que só lhe restava o canto, e melhor ainda se fosse o canto do cisne. Mulheres comuns deveriam casar, mas não as mulheres artistas. Um homem artista poderia ter, além da arte, mulher e filhos, em segundo plano, desde que não ficassem em seu caminho, mas, para as mulheres, tais coisas eram consideradas o caminho. Então a mulher artista deve renunciar totalmente a esse caminho, a fim de abrir caminho para outro - o caminho da Arte."

(De Negociando com os mortos, tradução de Lia Wyler, publicado pela Rocco.)

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