sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Solidão

Sou um daqueles cantos de sala que vassouras não alcançam, nem o aspirador. Tenho frio, mas o sol só me espia de longe, nunca se aproxima. No centro da parede, uma tela de artista consagrada me olha com o desdém de seu mar azul e de seus veleiros. Esta semana, por três dias, acolhi uma visita: uma pequena aranha que pareceu gostar de mim. Demo-nos bem e eu já nem pensava na ingratidão do sol, na indiferença dos apetrechos de limpeza e na preguiça da empregada. Mas, agora de manhã, minha pequena amiga, talvez já cansada de mim, ou porque nesses três dias nem um mosquitinho caíra na teia, resolveu aventurar-se. Ia quem sabe para atrás do sofá, mas ficou no meio do caminho. O sol a denunciou, e a empregada pisou-a. Depois, pegou um pedaço de papel higiênico no lavabo e limpou a sola com repulsa, como se aranhas fedessem.

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