segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Um trecho de "Meu marido", de Dacia Maraini

"Meu marido é loiro, tem entrada na testa, dentes sãos, a pele clara salpicada de sardas grandes e escuras. Meu marido é um homem elegante, veste-se com cuidado e tem a cabeça sempre cheirando a sabonete de água de colônia. Meu marido trabalha num banco, é caixa e ganha cento e vinte mil liras ao mês.
   Quando meu marido fala, escuto atentamente. Sua voz é velada, opaca, levemente aguda. As coisas que ele diz são sempre muito precisas, certas. Nunca o ouvi dizer algo de anormal ou de errado.
   Meu marido é amado pelos amigos e estimado pelos seus superiores. Quando quer, sabe até se portar como um homem de sociedade. Senta-se no meio de uma roda de pessoas e conversa, discute. Defende a verdade, modera os ímpetos dos amigos, inspirando-se sempre num bom-senso.
   Meu marido é um homem espirituoso, adora fazer brincadeiras. Às vezes encontro um sapo na cama ou meus chinelos lambuzados de geleia. Uma vez ele até me serviu um doce feito por ele com um rato morto dentro."

(Tradução de Francesca Cavalli, publicado pela Berlendis & Vertecchia Editores.)

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