sábado, 26 de outubro de 2013

Um poema de Augusto Massi

"NOTURNO DA FOLHA DE SÃO PAULO

Na rua Barão de Limeira,
bairro de Campos Elíseos,
caminhões descarregam
imensas bobinas de papel.

Assombrado por sombras
pisoteio jornais da véspera:
párias, travestis, mendigos.
Tutankaton mija na sarjeta.

Livre da carcaça da simpatia
(Ó doces píncaros de classe!)
a chuva reúne a ralé da raça:
Godot desplugado do século.

Soterrados na própria chacina
no excremento da experiência,
áspera mão de obra reciclada:
sobra, apara, margem de erro.

Capturado pelos acontecimentos
vi a máquina do mundo triturar
todas as vértebras da madrugada.
Não houve tempo de pular fora."

(Da coletânea Esses poetas - Uma antologia dos anos 70, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, publicada pela Aeroplano.)

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