quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Os coelhos
Levaram-me para a prisão. Era uma acusação consistente, como se diz. Todos os coelhos do mundo tinham vindo se abrigar dentro do meu chapéu e só saíam dele quando eu fazia minhas apresentações. Cada uma delas durava dezessete horas e meia, até que o último deles fosse aclamado pelo público. No início, pensei que os espectadores se maçariam, mas havia filas todas as noites. Eu teria ficado rico, se as crianças de todos os países não se pusessem doentes pela falta de coelhos. Encarcerado, fiz um acordo: convenceria os coelhos a voltar todos para os seus países. Eles, que tinham adquirido gosto pelo circo, aceitaram, depois de negociações das quais participaram psicólogos e diplomatas. Proibiram-me de lidar com coelhos novos, venham de onde vierem. Quando os quatro que tenho morrerem, só me restará aposentar-me. Se eu morrer antes, receio pela sorte deles. Quem aturará coelhos velhos, já sem esperanças de cio, cheios de empáfia e de presunções artísticas? Um deles assobia Tico-tico no fubá inteiro e uma parte da Marselhesa, que aprendeu com Pierre, um coelho naturalmente francês.
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